
Antes de falar dos estudos observacionais, temos que saber que a aplicação da estatística no meio acadêmico está relacionada, em geral, ao delineamento de pesquisas, e isto é muito mais que a análise, na verdade consiste em desenhar o experimento, isto é, avaliar o objetivo do estudo e assim determinar: o plano amostral, variáveis e instrumento de coleta utilizados. Para tal, pode-se dividi-los em dois tipos:
- Delineamentos experimentais;
- Delineamentos observacionais.
Neste artigo serão tratados os delineamentos observacionais, em que o pesquisador observa os fatores sem a interferência no objeto de estudo, tal que estes são realizados em condições naturais. Algumas possibilidades de estudos observacionais:
Série de casos
A partir da presença de uma determinada característica de interesse em um grupo, faz-se o estudo. Como não há comparativo, considera-se este estudo útil para geração de hipóteses.
Vantagens:
- Caracterização de cenários raros, tal que não haja muito referencial na literatura sobre os mesmos.
Desvantagens:
- Não há grupo de controle;
- Não há amostragem representativa;
- Não se pode avaliar associação causal.
Estudo transversal
A partir de uma característica de interesse e um ou mais fatores, faz-se mensurações dos fatores e de uma característica simultaneamente.
Vantagens:
- Baixo custo;
- Facilidade de realização;
- Mensura a prevalência da característica de interesse;
- É um dos primeiros passos na investigação das causas em surtos de doenças;
- Permite avaliar a frequência dos fatores e características em estudo.
Desvantagens:
- Vide a mensuração simultânea do(s) fator(es) há uma maior dificuldade em estabelecer uma associação causal;
- Há dificuldade para avaliação de condições de baixa prevalência.
Caso-controle
A partir de uma característica de interesse (desfecho), seleciona-se duas amostras: a 1ª contendo este característica (caso) e a 2ª amostra semelhante a 1ª, em termos das características dos indivíduos, porém com a ausência do desfecho (controle). Assim, objetiva-se comparar estes 2 grupos, visando avaliar os fatores que podem estar relacionados a presença da característica de interesse.
Vantagens:
- Baixo custo e curta duração (se comparado ao estudo de coorte);
- Possibilidade de estudar doenças raras;
- Necessita menos indivíduos para detectar diferenças entre grupos que outros delineamentos;
- Bom para avaliar doenças com longo período de latência;
- Fácil execução.
Desvantagens:
- Dificuldade de seleção do grupo controle;
- As informações obtidas freqüentemente são incompletas;
- Possibilidade de vieses, como: memória, amostragem e de confusão;
- Impossibilidade de cálculo direto da incidência entre expostos e não-expostos;
- Dificuldade em estabelecer relação temporal.
Estudo de Coorte
A partir de um fator, seleciona-se amostras expostas e não expostas a este fator, tal que se faz um estudo longitudinal, ou seja, ao longo de um período de tempo.
Vantagens:
- Fornecem a melhor informação sobre a etiologia, incidência e história natural das doenças, por partirem de fatores de risco para a análise de desfechos posteriores
- Interessante quando os fatores de risco possuem baixa prevalência;
- Alternativa quando o estudo clínico aleatório (será abordado no post seguinte sobre delineamentos experimentais) não é factível por motivos éticos.
Desvantagens:
- Alto custo e possível longa duração;
- Devido a duração, a propenso ao abandono do estudo por parte dos pacientes;
- Incapacidade de controle de todos os fatores de confusão.
Revisão sistemática e Metanálise
A partir de uma característica de interesse, seleciona-se não mais indivíduos, mas sim pesquisas, tal que estes trabalhos são revisados sistematicamente e seus resultados são estruturados para metanálise.
Vantagens:
- Pesquisa clínica com o maior nível de evidência;
- Sintetiza o resultados de inúmeros trabalhos, tal que se diminua a ocorrência de erros aleatórios e/ou sistemáticos;
Desvantagens:
- A qualidade de uma metanálise depende da qualidade dos trabalhos coletados;
- Quanto maior for a heterogeneidade dos trabalhos a serem combinados, menor a confiabilidade na estimativa encontrada.
Esta foi uma introdução ao estudos, caso tenha interesse em conhecer mais, entre em contato:
Referências e inspirações:
- NEDEL, Wagner Luis; SILVEIRA, Fernando da. Os diferentes delineamentos de pesquisa e suas particularidades na terapia intensiva. Rev. bras. ter. intensiva, v. 28, n. 3, p. 256-260, 2016.